sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A tempestade imaginária matou todas as flores em sua cabeça. O outono estava lá, e havia nele uma elegância caótica, amarelada e intensa, deixando bem claro que paisagens - (assim como pessoas) - são tristes, são belas.

O vento frio de outubro gritava em seu rosto, e ela - de maneira bem mecânica (pois não fora feita pra fazer o que TEM que ser feito) - se via a organizar a vida pra estação mais cheia de poréns

Mais um ano, mais um acúmulo imenso de saudades, e essa construção incessante de si mesma... E como de costume, se tranca em meio a tantas idéias e alguns poucos talentos, lá vai ela, mecanicamente limpando as folhas do outono.

Pensa nas pessoas que moram no lado sul do planeta, e como a gente quebra promessas de jamais sair de lá . Lembra que nem tudo são folhas de outono e se dá conta de que a tempestade nunca aconteceu fora da sua mente.

Um banho quente aquece o corpo, e um copo de qualquer bebida aquece a alma. Algumas pessoas jamais estarão completas, e ela sabe disso.

Ela escreve coisas belas. Deve haver um mundo de perturbações na sua cabeça.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Sete dias

Ela voou pra tão longe dentro de uma bolha de sabão, tão frágil, tão forte, tão certa. Ela voou, mas nunca deixou pra trás todos aqueles pedaços de cristal que costumavam enfeitar sua vida...

As vezes, pra viver um sonho, tem que se abrir mão de um outro.

Vida, você é maluca ou o que? Porque você parece nunca ser completa, você está sempre sentindo falta de alguma coisa... As pessoas te peguntam como se sente, elas não entendem que não existe resposta.
Mesmo quando você sorri, é um meio-sorriso e parece que sempre vai ser.

Você se pega pensando em problemas que não existem. Gente é um negócio complicado, enfim. Não existe um 100%, e se existisse, seria loucura.
Ela voou numa bolha de sabão pois suas asas de purpurina estavam cansadas demais, metade dela queria partir, metade dela desejava ficar.

Sete dias é muito pouco, conclui. Vida, o que você quer da vida? Por que é que você se pendura de ponta cabeça no galho de uma árvore?
Me lembro quando você costumava sentir tanto medo, mas então, as coisas pareciam até mais simples quando a coragem era palavra inexistente no seu vocabulário...

Vida, você está aqui tão presente e pulsante que só me resta te viver.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Banco o palhaço, te busco, te caço, mas você foge a passos largos e eu, tolo, não sei o que faço.

Te traio, te beijo, me mato. Cuspo e rasgo teu retrato, te abandono mas não te largo. Te amo e te maltrato.

Me corto em tua língua afiada, bebo cada dose da sua lágrima forçada. Rasgo os pulsos nessa peça improvisada.

Traio a mim mesmo, me pego fugindo pela cidade a esmo, sou fraco, fútil, funesto.

Então, descubra o que não é mentira. Flores, dores, rosas murchas pra quem eu amei um dia.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Então eu permaneci lá, sentada no degrau, por infinitos minutos. O tempo é mesmo relativo. Não tenho certeza sobre o quê estava pensando, pois era apenas como um estado de coma.
Você pensa que as coisas são impossíveis, até que começa a fazê-las.

Eu acendi um cigarro e bati as cinzas pelo chão, eu gosto do sabor da fumaça enquanto assisto o pôr do sol pela janela do meu quarto... eu gosto do sabor da fumaça... Mas, do que mais eu gosto mesmo??

Lembro da infância, quando girava e girava, caía no chão e a cabeça confusa. Quantas vezes prometi não fazer novamente? Só parei na adolescência. Hoje a cabeça ainda gira, mas por outros motivos. Quantas vezes, na manhã seguinte, jurei que nunca mais iria tomar cerveja?

Promessas que a gente faz, sem a intenção de cumprir.

Esse degrau me parece o lugar mais confortável do mundo... pena que...

Estive lendo velhos diários, antigos pensamentos, tentando descobrir quando foi que eu mudei tanto. Tanta gente veio, quase todos se foram. E, entre bons amigos e antigos amores, eu meio que entrei em transe. Sou a pessoa que mais amou nesse mundo. Sou a pessoa que menos se questiona os motivos de não ter dado certo.

Eu não sei se é prudente falar sobre os sentimentos, principalmente quando se tem a guarda baixa, como é meu caso. Eu nunca me protejo. Eu escrevo coisas sem sentido, entro em assuntos paralelos e as pessoas não entendem.

Daqui do degrau dá pra ver que vai chover... Talvez eu devesse largar esses devaneios e ir recolher a roupa do varal... Mas, uma pessoa que mal respira, você acha mesmo que ela se importa com a roupa, com a chuva, com o fim de semana?

É tão difícil partir, até que você parta. Então acaba sendo a coisa mais fácil que você já fez na vida.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

lá na roça tudo é triste, até o jeito de falar...

E entre alegrias e ansiedades, eis que surge - ainda que de leve - o medo. Eu olho pra todos esses rostos bronzeados de sol, corpos que encaram o trabalho no campo, gente tão simples, tão feliz, tão minha.

A moda de viola na hora do almoço, o português à la Guimarães Rosa proseado por uma gente tão verdadeira e de amores tão intensos.
O cheiro da chuva na terra. Aquele bando de pássaros cantando pro pôr do sol. A comida perfumada e feita aos montes, porque na roça o almoço é sempre feito em toneladas... só quem viveu isso sabe bem o que é...

É um sotaque meio que único, um jeito preguiçoso de conversar sobre essa vida que passa quase que parando.
Tudo, por menor que seja, vira assunto. Tudo vira causo. E entre a preparação pra mudança e a viagem, tudo vira caos.

Mas, ninguém falou que seria fácil, ninguém falou que seria indolor. Porque, quanto mais as coisas aconteçam (e elas acontecem aos montes) mais humana eu fico, sujeita a milhares de dores e felicidades.

A vida aqui nessa terra assim: devagar, aos poucos, gigante, única. E um dia eu volto pra ela.

domingo, 23 de setembro de 2012

2 x 23

Tentando decidir o que cabe em duas bagagens quando a gente opta por um sonho. Duas malas, 23kg cada. É tudo o que eu posso levar. E não, não estou reclamando! Eu, que adoro desafios e que já recomecei algumas dezenas de vezes, estou apenas amando isso tudo!

Separando peças, me livrando de peso desnecessário (entre objetos e pessoas), um turbilhão na cabeça e uma paz absurda no coração.
A melhor coisa do mundo é decidir por si mesma, fazer só aquilo que se tem vontade, quebrar as correntes, ser livre... A melhor coisa do mundo é saber que não é questão de sorte, e sim de competência.

Minha mãe me ensinou a não culpar as circunstâncias, o governo, o clima ou blá quando as coisas não dão certo. Meu pai me ensinou a nunca deixar as coisas darem errado. E eu cresci assim, com essa vontade louca de ser feliz e de amar sempre.

O álbum de fotos não vai comigo (muito pesado!), mas eu não gosto de álbum digital. Dois pacotes de café são presença confirmada em uma das malas. Preciso me livrar de coisas, preciso comprar outras tantas.
Coisas que vão ficando pra trás, dvd's, livros de Psicologia, coisinhas, coisonas. Coisas novas que estão por vir.

Muita cor, muito Brasil dentro da mala, mais ainda dentro de mim.

Meu quarto está uma bagunça, mas é bom ver a vida assim se ajeitando. Quem diria... Porque só duas pessoas nesse mundo sabem de fato, com todos os detalhes.
Uma parada pra um cigarro, a lembrança daquele dia em que uma simples FR mudou a sua vida todinha, antes mesmo de você saber.

Eu olho pras malas, preciso de mais espaço, preciso de pôrra nenhuma. Tudo o que é necessário cabe na minha bolsa: passaporte e Visto K1.
Deixo as malas pra outro dia, porque no fim da matemática, 2x23 é muito pouco pra levar quem não vai comigo, e ao mesmo tempo, espaço demais pro sorriso que eu guardo no peito.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Nos últimos 13 meses eu tenho me alimentado de pedaços de nuvens, mantido as estrelas sob os meus pés enquanto caminho. Durmo com a janela aberta na esperança de que um bando de vagalumes me carregue para o lado de lá do mapa.

Não foi tarefa das mais fáceis, mas mantive a cabeça em ordem e o coração batendo com toda a força que esse corpo é capaz de suportar... Eu virei noites em claro a ponto de quase perder a noção dos dias, mas insônia de felicidade é sempre coisa boa.

É bom saber que sou mais forte do que pensava, e das poucas vezes em que cogitei pular do balão, ele estava lá me trazendo a calma. E em todas as noites em que me senti tão solitária no meu castelo, ele escalou a torre pelas minhas tranças.

Em 7 dias começa uma nova história. Vamos escrever esse último capítulo e partir para o próximo livro. Os mesmos protagonistas. Rumo a um outro reino.