terça-feira, 29 de novembro de 2011

Aqueles segundos que precedem a morte, onde a vida toda passa diante dos seus olhos; ele pensa, imóvel, nas coisas que deixou de fazer por pura e simples covardia.

O pé de jabuticaba e os constantes tombos lhe renderam algumas cicatrizes nos joelhos; o cheiro da chuva molhando a terra; as vezes em que rolava na grama e saía com o corpo pinicando... Sim, ele fora moleque um dia, mas quase nunca se lembrava disso; era adulto demais, sem planos, sonhos, utopias, enfim... Crescera e dera ouvido as pessoas ‘importantes e sábias’, queria ser como elas no passado, mas naquele momento tudo o que mais desejava era ter sido mais sonhador.

Sete segundos, ele vê o cachorro lambendo suas mãos e a alegria que aquilo lhe dava; viu a esposa; como ela iria reagir? De joelhos o tempo passa, lenta e cruelmente; as batidas do coração ameaçam falhar, mas as lembranças insistem em correr diante seus olhos.

A vida toda a gente gostaria de viver de verdade, mas só no momento da morte é que se lembra disso...

Lembra o primeiro emprego, os primeiros tudos, vê lágrimas e sorrisos bem ali, na sua frente, e sabe que esse talvez será seu útimo minuto.

Uma criança jogando bola, ela corre e abraça a mãe num gesto sublime de amor e gratidão. Seria ele, aquela criança? Nem se lembrava mais da última vez em que dissera palavras agradáveis a um ente querido. A tristeza é tão grande que nem sobra lugar para o medo; indefectível e instantaneamente, ele suspira uma última vez, fecha os olhos e morre.

um dia, ninguém se lembrará de você... ninguém.

domingo, 27 de novembro de 2011

Prego os olhos no espelho na esperança de encontrá-lo lá no fundo, atrás das retinas. Ele me instiga tanto. Isso sem falar nos constantes pesadelos. Sonho que estou me afogando. Eu sempre morro afogada.
Sonho que corto os pulsos com estilhaços de estrelas. Imagino que cortar os pulsos não seja legal; vem a tontura e os vômitos. Sonho com os olhos de um homem, mas eu nunca vejo seu rosto. Ele me pega pela mão e me leva a caminhar. Andamos muito. Então, ele me beija a testa, diz que me ama, rasga minha blusa e me dá várias facadas. No exato momento em que vou ver seu rosto, puf, acordo.
Sonho com uma queda livre, tranquila, mas o chão nunca vem. Sonho em preto e branco... Engraçado, no próprio sonho eu estranho isso tudo. Palhaços, velhos, pessoas disformes. Eles riem de mim.
Mas lá em cima eu estava falando dele... Aaaahhh, como é difícil falar de alguém que acende as estrelas. “quando você sentir a neve pela primeira vez, ela nunca mais vai sair dos seus ossos.”

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Menina poetisa que brinca, sonha no correr da brisa. Pula e se machuca, mas levanta e sempre vai a luta.
Sonhos de cristal se partem em mil pedaços, ela se corta em seus pontiagudos estilhaços.
Furou o dedinho, coitada, num delírio profundo quase eternamente acordada.
Menina poetisa que chora, reclama sozinha, caí¬da na lama. Onde ela andará agora?
A espera de sua estrela no despertar da aurora.
Menina, poetisa, levanta!!! Acorda, que o mundo é teu, me encanta...
E com teu veneno, teus olhos calados e sorriso incerto, procure pela felicidade, pois ela se encontra por perto.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Saudades, esse poderia ser o teu nome.

Na pressa de descer a escadaria, acabei deixando algo importante passar, mas na hora nem me dei conta; e agora que te procuro, não sei em qual dos cantos você está.
Hoje eu amanheci assim, em meio a um caos.

abre parênteses: (ouvindo a sua música) fecha parênteses.

E se seu disser que nunca sei mesmo qual é a direção? E se eu disser que tudo o que eu faço só faz aumentar essa vontade?
Enquanto o mundo roda, as pessoas vem, as pessoas vão, continuam fazendo tantas coisas e eu ainda na escadaria, parada, tentando esticar os dedos e tocar o que está tão distante.

Isso sem falar em você... De vez em quando me pego pensando nas nossas cartadas, e nos seus draminhas, nas ligações incompletas, nos textos no meu celular... e no que se tornou pra mim e pra minha vida depois do que passamos.
Dizer que eu te amo seria, no mínimo, redundância. Você já sabe disso.

sábado, 19 de novembro de 2011

Cinco e quarenta e seis.

Os ponteiros do relógio são inimigos que torturam, mas não matam, ela pensa. Com muito tempo livre, procura um passatempo qualquer, mas parece já ter esgotado todas as possibilidades.
Corta o próprio cabelo, pinta as unhas de vermelho, procura por suas roupas vintage. Nem todas as correntes são de ouro. Poucas pedras são diamantes.
Se ajeita na cama, procura o controle da tv, fuma um cigarro. Parou de tomar café, mas que merda!
A mariposa gira ao redor da lâmpada e não se importa com as constantes cabeçadas.  Sua sombra na parede tem algo de mágico e assustador. Engraçado... Não é mesmo verdade que a sombra que a gente sente parece sempre mais escura e perigosa do que o objeto causador?
Lá fora a lua é imensa, lá dentro tudo parece pequeno.
Olha para a tela em sua frente. Que monte de bobagem escrita!
As pessoas estão há tempo dormindo. A pessoa precisa ir dormir.
Relógio, de novo. Cinco e quarenta e seis. Mais um dia se foi, ou outro dia está começando?  O  tempo  bate, mas nunca mata.
Talvez ela publique um texto, desligue tudo e vá dormir. Pode ser que se vire de lado e antes que feche os olhos, perceba que o tempo não é o vilão. Ela, afinal, está mais segura de tudo.
Vem nascendo um novo dia e ela vai procurar outros culpados. Ansiedade, é contigo agora.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Passos largos, a respiração ofegante, visão turva, os pensamentos confusos. Evita o elevador, sobe as escadas, trôpego, sôfrego; por que diabos ninguém percebe essa tamanha perturbação? 
Nos últimos meses aconteceram coisas que contribuíram para esse estado deplorável em que se encontra agora. 

Talvez fosse melhor viver sem conhecê-los, sem criar expectativas, porque no final, quase tudo é falso, pequeno, quase tudo é nada.

Poucas pessoas valem a pena, as pessoas lhe eram raras  naquele fim de tarde em que decidira subir os 18 andares de um prédio qualquer, para fugir de não se sabe o quê. 

Um paradoxo, falácia, erro de raciocínio. Era assim que se sentia, no pior dos significados. 
E perto do parapeito, o vento sopra tão louco naqueles metros acima. A respiração se acalma, os ânimos se resfriam, os pensamentos são tão lentos agora. Acho que só queria ver o horizonte. Acho que só queria se sentir grande. Acho que...
Eles não deveriam construir prédios tão altos e de fácil acesso...  é demasiado atraente para as pessoas. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Não existe hora certa pra começar algo que se quer muito. Um dia a gente acorda com o peito leve e decide que quer sentir, quer estar vivo. E joga alto, arrisca tudo.
Essa constante transformação é que diferencia o viver do existir, e, cara, nem sempre é fácil. Mas o mundo pertence aos quem tem coragem de dar um passo à frente todos os dias de suas vidas.
E por mais que às vezes, tudo pareça um ponto final... ainda convém lembrar:  existe muito mais lá, além do horizonte.