terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aquele casal que se conhece desde sempre, brincavam juntos, brigaram juntos, cresceram juntos. A mãe dela era a "tia", a dele também. Ela era tão magrela e cabeluda, e ele era só um moleque branquelo e com o rosto cheio de espinhas.
Mas dizem que o tempo passa, e, rapaz, não é que ela estava até graciosa? Ele também encorpou, não era o mais bonito, mas sei lá... tinha um certo charme.
As brigas agora eram por outros motivos, que eles mesmos desconheciam. Implicavam um com o outro e ninguém entendia o porquê. E no dia seguinte, tinham que se encaram, eram vizinhos, 'quase parentes' como costumavam dizer.
Um dia ela foi embora, eram tempos de faculdade e a vida toca. Ele inventou que queria montar uma banda, mas todos sabiam da sua falta de talento.
O mundo rodou e os desencontros eram constantes. Nesse feriado, ele voltava pra cidade, mas nada dela aparecer. No próximo feriado, o contrário. Ah, melhor assim, ela era uma chata e ele um metidinho.
Mas no Natal do ano passado, as famílias haviam combinado e não havia espaço pra desculpas. E eles se viram. Cara, ela tava linda! Linda! E de mãos dadas com outro cara. Por que raios ele se incomodava tanto? Ele devia estar feliz, afinal, sua 'quase prima' com seu melhor amigo. É, ele tava feliz. Pros infernos!
Ele gaguejava, se engasgava com a cerveja, não conseguia olhar nos olhos do casal. E ela estava distante do namorado, por que tinha mudado tanto e de repente?
Não podia acreditar, não estava acontecendo, não, não, não... Oh, wait. Sim, sim, sim. Era paixão, era desejo, era raiva. Mas que merda, a gente não pode querer a mulher do amigo, do melhor amigo.
Culpa, o raio que te parta. Na primeira chance eu chego nela. Falo tudo. Das cartinhas de infância que eu nunca enviei, de como eu quis te beijar no pera-uva-maçã-salada mista. De todo o sono que perdi quando vi que você estava crescendo.
Quase meia-noite, o bode sumiu, deve ter ido ao banheiro.
Ele foi, contou tudo, já não gaguejava mais. Disse o quanto estava feliz por vê-la e como desejaria que ela estivesse sozinha. Pediu desculpas, não devia pensar nessas coisas.
Mas foi interrompido por um beijo, daqueles que a gente pega na nuca, que queima o estômago. Um beijo único, rápido, eterno. Olharam-se nos olhos e não disseram nada. A minha quase prima, a namorada do meu melhor amigo.
Virou as costas, saiu andando. Nunca mais, está prometido.
...assim como veio, assim partiu. pra uma vida inteira, um minuto apenas...

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